imagem: site dos menes (facebook/sitedosmenes)
Quando criança a palavra "bicha" e "sapatão" eram usadas com frequência. Porém, ao contrário do que se espera, não eram usadas com desdém, era como a ignorância da época chamava os gays, acho que nem se sabia direito que o tal sufixo "ismo" seria ofensivo por remeter à doença. Nunca houve na minha família qualquer tipo de espantamento com a sexualidade das pessoas. Minha mãe sempre disse que a gente seria o que quisesse. Inclusive, quando eu tinha uns 26, 27 anos, na minha fase mais encalhada, ela vinha querer saber: "tá namorando menina e não quer contar pra mamãe, né?"
Fui uma caminhoneirazinha na infância, não dei certo no balé, usava kichute e era "goleiro" - eu mesma dizia que era "goleirO" - no recreio. Era meio machinho, gostava de andar sem camisa que nem os meninos e o meu apelido era "vidigal" por que eu brigava muito. Mas tudo isso era extremamente normal, deixavam eu ser o que eu quisesse. Lembro de uma vez que uma moça amiga da minha mãe fez um bolo de chocolate a pedido meu e, ouvindo conversas, falaram que ela namorava uma mulher. Não teve horror nem nada. A moça namorava uma mulher, tinha um filho, assim era a vida, nenhum espanto. Havia um garçom que me mandava uma geléia de goiaba deliciosa, ele era "bicha" - como diziam - eu gostava dele, pra mim o doce estava acima de ele ser bicha e no meu imaginário de criança quando falavam que duas pessoas do mesmo sexo namoravam imaginava elas se beijando igual imaginava pessoas do sexo diferente se beijando. Era assim na minha cabeça aos 5, 6, 7 e 32 anos.
Não gosto de pessoas estereotipadas. Por exemplo, gente sem personalidade que adquire algum tipo de vestimenta social pronta, seja hetero ou homo, portanto não gosto da menina que acha que tem que jogar duro com homens e não gosto do gay que acha que tem que ser maldoso e manda aquele "tá meu bem" no final de fofocas venenosas. Problema deles se são assim, apenas não me torno íntima se percebo que não há nada além dessa superficialidade. Não gosto de pegação pesada em lugares públicos. Por exemplo: se eu tivesse um restaurante e um casal hétero estivesse se pegando além da conta do carinho e de demonstrações públicas de amor, ia chamar atenção deles, a mesma coisa com gays.
Se tenho medo que minha filha seja gay? Honestamente, tenho medo é que ela se torne uma pessoa ruim, que ela não saiba fazer bolos gostosos ou geleias para as pessoas... enfim que nunca surpreenda ninguém com boas atitudes, esse é o meu medo.Se acho que minha filha poderia ser gay por ver gays se beijando publicamente? Não, tenho medo é que ela tenha um comportamento desrespeitoso publicamente.
Andar de mãos dadas, se beijar, um abraço no meio do shopping eu permito, se começar o "rala rala", vou ficar danada da vida. Vejo isso como um problema meu, acho que a criação que vou dar pra ela é que vai definir se ela vai saber lidar com o amor de forma saudável, seja ele com homens ou com mulheres. Não gosto de pegação em parada gay assim como não gosto de pegação em micareta - aliás não gosto de nada em micareta e nem em festival de indie rock. Sou careta mesmo e o sapinho não quer saber se você beija homens ou mulheres.
Pra mim as pessoas devem poder se casar com quem quiserem desde que sejam adultas. Penso que a sexualidade de crianças não deve ser estimulada de jeito nenhum (por isso eu fico um pouco receosa com aquele projeto do Mec que era voltado para crianças de sete anos, acho cedo) e que todas devem ser tratadas de forma igualitária: meninos que quiserem brincar de boneca que brinquem, meninas que queiram jogar futebol que joguem. Mas tudo com naturalidade, sem convenções. Como mãe e cidadã eu apenas acho que quanto menos frustrações na vida, melhor. Essa é a única causa que ouso defender.
P.s Considero tota essa discussão sobre a sexualidade um grande retrocesso. Não consigo crer que ainda não tenhamos superado isso. Nem evangélicos, nem católicos, nem Estado nem ninguém deve meter o bedelho no sexo alheio. Não tem o que discutir.
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