25 de out. de 2012

Já que você é tão bonzinho...

Bosch  provou que não é de agora que está dando errado


É impossível ser realmente o que se quer demonstrar na rede mundial de computadores. O que se demonstra é o que deseja que os outros pensem que é: altruísta, bem humorado, bem de vida. Mas, sem que os índios nos ouçam: pode ser que a realidade seja o que tem na geladeira, o almoço mal digerido, o IPVA, o emprego. Há alguns anos acordo disposta a mudar: vou falar menos, vou respeitar a ideia das pessoas de que sustentabilidade começa com transformar uma calça jeans numa bolsa ridícula, vou respeitar o direito do outro que, dizem, começa onde o meu termina (bullshit opa opa opa). É uma pena que a minha responsabilidade com o novo conceito de bondade ainda seja capenga. Venho falhando de forma brilhante. Mas me sinto mal, sabem... me sinto uma pessoa que não liga pro sofrimento alheio. O pessoal da internet, aquele bem empenhado, faz a gente se sentir cretino por não estar-totalmente-preocupado-com-a-última-causa-do-momento.


Essa é uma pavorosa bolsa feita de calça jeans. Sempre fica feio. Se quer reciclar uma calça jeans, junte retalhos de várias e faça uma colcha de retalhos jeans (dica rsss)




Inclusive alguém faz a gentileza de me avisar da última causa porque... vai que eu consigo me engajar, né? OPA.

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Não faço ideia de quando começou essa obrigatoriedade por ativismo (não confundir com respeito). Quando alguém escreveu em um muro "de que adianta fazer ioga e não cumprimentar o porteiro" talvez quisesse dizer que: desprezado os eventos cotidianos e a gentileza com as pessoas diárias, o foco é a bondade inatingível, o bem maior, o projeto de um mundo melhor começando por um lugar virtual, evidentemente. Ou seja, "por que vou ceder lugar pra essa obesa suada nesse ônibus se eu preciso escrever um post aqui no meu SMARTPHONE pra marcha-dos-que-não-comem carne-de-porco?"



Veja, o Belchior, ele sabe o que fala. "conheço o meu lugar"



Teoricamente está justificado ser uma pessoa antipática e até pungente na levada diária porque: se é sustentável, orgânico, anda de bicicleta, pensa nos índios, na comunidade despejada etc etc etc. Algo como: "ser engajado me dá alvará pra ser um imbecil". É insensível não pensar nas dores do mundo mas totalmente permitido se privar do problema do próximo porque é uma mazela individual, "pequena" e mundana? Grande questão pós-moderna da rede mundial de computadores. A insegurança está aí para esbofetear a cara de alguém enganado ao acreditar que sempre há algo muito grande nos factoides (essa palavra, data venia*, foi a única que consegui encaixar nessa ideia) e fraudes consumadas posteriormente.


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Só colecionando perdas consegui me aproximar mais da honestidade. Estou satisfeita, sinto os males do mundo, sim, tá tudo errado. Mas para mim é mais confortável ser "bondosa" de forma mais palpável. O que tenho de ruim, vou levando como sempre: remoendo e engolindo. A frustração, a ansiedade, a impaciência são ulcerosas de qualquer forma. Eu aguento. Ou tento.

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Por hora, não enganar a mim e aos outros formando um Lego de aparências que se quebra no primeiro contato já tá bom.


*SEMPRE QUIS ESCREVER DATA VENIA.

6 comentários:

Anônimo disse...

Mas é uó, gente, ter que usar bolsa jeans, kkkkkkkkkkkk. Sou uma pessoa do bem, mas é impossível ser ótimo em tudo.

Henri Sardou disse...

Touché.

@willard_captain disse...

É aquilo que sempre conversamos: todo mundo preocupado em parecer ao invés de ser. É a mesma discussão do cão que ladra e não morde, da pessoa que faz caridade pra ficar se exibindo. No fim das contas, é sintoma de quem não acha - mas tem certeza - de que o próprio umbigo é o centro do universo, porque só assim pra ficar falando de si mesmo e saudando as próprias qualidades o tempo todo.

Unknown disse...

o momento em q percebi que os egos geralmente se sobrepõem às causas, e isso tanto na vida real quanto na internet, foi bem triste. mas eu acho que a crítica é boa quando não zomba, e até o deboche pode ser feito com o mínimo de respeito, porque mesmo que a militância seja questionável, o sofrimento dos reais detentores da causa vão continuar existindo, e quando você faz pouco caso da causa é também desumano.
então, se eu acho bobo isso de colocar os nomes de índio no sobrenome do facebook, penso tb que no final é algo bom pra se ostentar. significa que a causa de alguma forma é algo que te agrega socialmente, então eu acho tão bobo quanto, se importar com a legitimidade ou não das convicções desse povo, quando as pessoas q importam de verdade (no caso os indios) estão tendo alguma visibilidade, e qualquer visibilidade é bem vinda.

no fundo todo mundo quer se afirmar, né. e quando você não o faz vestindo a camisa dos oprimidos, você faz ao rejeitar esse comportamento e dizer "sou cool e não preciso disso". e a empatia ela não gasta se a gente usar, então eu posso ser uma pessoa boa e mesmo assim me importar com causas sociais, eu acho, é só tentar.

Unknown disse...

o momento em q percebi que os egos geralmente se sobrepõem às causas, e isso tanto na vida real quanto na internet, foi bem triste. mas eu acho que a crítica é boa quando não zomba, e até o deboche pode ser feito com o mínimo de respeito, porque mesmo que a militância seja questionável, o sofrimento dos reais detentores da causa vão continuar existindo, e quando você faz pouco caso da causa é também desumano.
então, se eu acho bobo isso de colocar os nomes de índio no sobrenome do facebook, penso tb que no final é algo bom pra se ostentar. significa que a causa de alguma forma é algo que te agrega socialmente, então eu acho tão bobo quanto, se importar com a legitimidade ou não das convicções desse povo, quando as pessoas q importam de verdade (no caso os indios) estão tendo alguma visibilidade, e qualquer visibilidade é bem vinda.

no fundo todo mundo quer se afirmar, né. e quando você não o faz vestindo a camisa dos oprimidos, você faz ao rejeitar esse comportamento e dizer "sou cool e não preciso disso". e a empatia ela não gasta se a gente usar, então eu posso ser uma pessoa boa e mesmo assim me importar com causas sociais, eu acho, é só tentar.

Jane disse...

concordo muito com o comentario acima. sei que nao somos perfeitos, mas pseudoativismo ainda é melhor do que nada. beijos