26 de jan. de 2012

Ordenhando a esperança – um recado de amor aos blogs de comportamento

 vacas são seres maternais


Há peculiaridades encantadoras na internet, várias. Todas me encantam, sou uma pessoa muito encantada, devem ter colocado LSD nos três tubos de soro que tomei quando tive um forte desarranjo no verão de 2007 em Arraial do Cabo – naquele delírio todo tenho certeza de que fui atendida por uma médica travesti com sotaque espanhol, deveria ser cubana, não posso provar, é surreal demais, ainda tenho dúvidas. Mas, deixa pra lá, ando mesmo deslumbrada com as questões da vaidade sobre os textos de um ou outro blog e ainda mais apaixonada por estudar a reação de quem os escreveu diante das críticas ou "xingamentos"como os corações doloridos desses escritores preferem acreditar.

Esquece o parágrafo acima (por favor)

Posso entender que é duro: preparar um texto, ter ideias – há controvérsias – corrigir o troço todo e depois aguentar um ou outro gaiato dizendo que não está bom, que é medíocre etc. etc. etc. Uma injustiça quase sempre precedida do “você fala mal mas não faz, quem faz sou eu”. Para esse argumento, acredito que seja válido dizer que muitas pessoas podem preferir se resguardar ao invés de distribuir o chamado “rebosteio”.
Desenvolvi uma teoria na minha humilde inteligência de cão labrador – por favor, quando você se lembrar de mim, lembre-se do cão Marley e sorria – , baseada nas minhas experiências com vendedores de loja.

Teoria da Segurança pela Pasteurização

“Hummm essa camisa é bonita, né?”

“É sim, sra, tem saído muito, está todo mundo comprando!”

Na cabeça da vendedora me sentiria mais tranquila em comprar uma peça que vários clientes adquiriram porque assim estaria certa de não estar sendo ridícula e ainda, totalmente inserida na moda ou qualquer coisa que o valha. Bem, no meu caso, não tenho problemas em ser ridícula, é mais fácil do que viver aparando todas as minhas derrapadas. Doravante – sempre quis usar isso – , posso minimanente compreender o motivo da repetição de clichês e lugares comuns – que nem servem para ser preconceituosos, são apenas muito palermas  –  agradar a alguns tantos blogueiros.  

Aqui vão dois exemplos;

“Homens jamais serão amigos de mulheres, em nenhuma circunstância. Na verdade nem as mulheres são amigas delas mesmas, mas isso é assunto pra outro texto posteriormente.”

“Sinais que podem indicar que ela curte mulher: 5. Se ela não demonstra ser preconceituosa;”

Em algum momento da história foi necessário segregar os gêneros e oferecer conteúdos distintos, infelizmente. Mas, amigo, isso ACABOU, é sério! Tento entender porquê alguns escritores – se escreve, é escritor, independente do conteúdo -  insistem no reforço "do que pertence aos homens e do que pertence às mulheres". Penso em sites de comportamento – embora eu não curta porque há muita cagação de regra –  falando pra gente de todo tipo já que atualmente homens e mulheres podem expressar-se de forma equivalente. Tanta pasteurização pode ser o resultado da certeza de que aquele texto, foto, vídeo, vai com agradar porque já agradou antes – entendes? E se alguém vier dizer “você não é o target”. Então...coitado do target.

Não me ofenda, não me xingue

As reações às críticas são surpreendentes: estão relacionadas aos grandes embates pessoais com direito à vingança, ataques ao emprego do crítico, carteirada envolvendo a polícia federal, palavras como “ódio”, “recalque”, além das gírias bobocas “hater”, “troll” e sei lá quais outras que orgulhosamente desconheço. Não existe maciez nem ao dizer “o seu texto está péssimo, é um entabulado de clichês” e muito menos ao receber algo desse tipo. Quando você publica, você está exposto: o que você escreve representa diretamente o que você é e qual o seu posicionamento diante do assunto supracitado. Eu penso que se há segurança no que se diz, não há reações extremadas diante dos críticos. E outra, veja que legal, seu espaço na internet é realmente SEU, você pode moderar os comentários, deletar, esquecer, retrucar mas não precisa odiar.

Antes: textos ruins não querem dizer falta de capacidade, gosto de pensar em “receio”. Sou uma pessoa encantada e patinadora da esperança (me supera nessa, Paulo Coelho). Minha vontade é abraçar o sujeito e dizer: tudo bem, cara, você pode soltar suas referências e testar a originalidade, você consegue, estou aqui torcendo por você!
Ps. os trechos extraídos dos blogs estão nesses posts esse aqui  e esse aqui

Agora, o posicionamento do meu amigo Thiago Schwartz, o Perereco

Acabo de ler o texto sobre “friendzone”, e – com exceção de algumas partes definitivamente curtas – não vi nada de novo na abordagem, apenas os mesmos tópicos e mesmos argumentos que a gente vê nos 9gags e blogs de memes da vida (minha mente não conseguia dissociar o texto daquele meme “fuck yea” durante a leitura – e isso não é um elogio).

Uma espécie de “auto-ajuda de macho”, do tipo “vai lá e come todo mundo, você é um caçador e as mina é as caça rs”. Frases como “Homem não tem amiga” e “nem mulher é amiga de mulher” ajudam a ter uma visão geral sobre o ponto de vista do autor, afinal esta é uma selva, mulher só serve pra ser comida e todo ser humano com pinto é um adversário em potencial neste safari de caça que é a vida.
Mas se no final das contas esse for o papo que você tem no bar com seus amigos, beleza. Aliás, é um belo tópico praquele “esquenta” antes da balada, onde os machos da espécie Homo Stellum Artois fazem as apostas de quem pega mais.


P.S.: Friendzone é uma desculpa feminina pra não dar pra gente feia/sem graça/babaca. Se você está nessa situação, deixe de ser um (ou mais) desses três e tente novamente. Ou mude de “presa”.

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, lindo!

Diana disse...

Muito bom!
Chego a dizer que se você não segue estes memes (pois é, os assuntos de tão repetidos em sua fórmula, se tornaram memes!) você é um excluído digital, é extremamente criticado e por fim, condenado ao Limbo digital!

Anônimo disse...

muito bom!

Thami Sales disse...

BRAVO!

E outra, essa fórmula de ~sucesso~ que se baseia em sites pra machos alpha já está batida. Um texto que fale sobre cerveja e bunda, pra alguns, é a receita do sucesso e ai de você se disser o contrário. A gang do recreio pode armar uma guerra contra a sua pessoa. Vão querer apontar defeitos teus, como se isso anulasse os deles.

Ser infeliz em um texto não é defeito, agora você expor idéias pro mundo e querer ser acolhido é no mínimo ingênuo,coisa que um macho de verdade não é ;)

Parabéns, Camilla
;*