27 de ago. de 2009

Mondo bizarro*

capa do Hora H, eleita por mim uma das melhores do noticiário mundo cão

acima, Tenório Cavalcante, segundo alguns "matava rindo". Foi também político, tendo apontado sua metralhadora "Lurdinha" para Antônio Carlos Magalhães

Há no estado do Rio de Janeiro uma tradição do jornalismo policial popular que eu acho uma coisa linda. Acontece que a passionalidade extremada se faz via de fato na camada C e D da população. Em Recife, onde morei por quase duas décadas, esse tipo de noticiário também tem muita força. Atualmente, acho que no SBT local, um cidadão chamado Cardinot entra no ar no horário do almoço e entrevista os "caba"na delegacia, a maioria vai em cana por causa de cachaça, mas também estão lá as prostitutas, os "maconhêro" que garantem a diversão. No Rio, temos o Wagner Montes que é bom, mas exalta muito a polícia e termina enchendo o saco. Mas é na Baixada Fluminense que as coisas acontecem. Belford Roxo já foi a cidade considerada mais violenta do mundo nos anos 80, por exemplo. É uma região dominada por grupos de extermínio desde o antigo Tenório Cavalcante, o Homem da Capa Preta.

Dessas coisas todas sobrou o Jornal Hora H. O "popular da baixada" são casos considerados no nosso mundo como inverossímeis. De fato não há como crer que uma mulher possa ter encaixado na vagina um carregador de celular, trouxinhas de maconha, isqueiros e mais alguns artefatos que seriam levados ao amante na cadeia. Ou, o caso do homem que estuprou a sogra porque ela atrapalhava o romance dele com a filha. Todas essas histórias se caracterizam melhor no meu imaginário tosco via as sensacionais mancheter criadas, em minha opinião, por verdadeiros gênios da comunicação made in Baixada. Então ontem eu liguei pra redação dos caras.

"Alô aqui é Camilla eu atualmente trabalho em tal lugar. Queria parabenizar o trabalho de vocês sabe? Não perco nenhuma manchete desse jornal que eu leio pela internet."

Ficaram desconfiados.

"Estou sentindo uma pontinha de ironia aí, Camilla."

"Que isso cara, tô falando seríssimo. Te acho um gênio."

No fim, o cara se rendeu aos meus elogios e contou que muitas vezes a sede do jornal, em Nova Iguaçu, fora alvo de atentados mas que ele não tinha medo de nada. O trabalho era esse mesmo: correr toda os municípios da Baixada atrás de histórias insólitas que animem o dia de pessoas nem tanto convencionais, como eu ou como você.

*Mondo Bizarro é um dos melhores álbuns dos Ramones.

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