2 de ago. de 2009

Eu, Vidigal e Marginal

Acho que é essa mania de empedrar o coração, sempre empedro. Hoje fiquei no meio do tiroteio. Lá no Vidigal. Quando era pequena me chamavam Vidigal. Porque eu era grossa, aliás, sou grossa. E uma pacifista exaltada, conforme me disseram ontem, durante o almoço. Mas no Vidigal... eu pensei , durante o tiro;

“Se eu morrer aqui e agora, o que minha avó – que me chamava de Vidigal – diria?”

E não senti nenhum medo. O policial viu que eu não senti medo. Outra repórter ficou desesperada. Dizia “ai minha filha, minha filha”. Tenho filha também, mas de alguma forma sei que ela estará sempre bem. E eu parecia um moleque. Transitei na marginália muito tempo. Não trato de bandidos, mas de marginais. Eu, por exemplo, sou marginal. Ok. Entendi. Se expor ao perigo com tamanha vontade, também é uma forma de suicídio.

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Iam derrubar o barraco da mulher. Quando ela abriu a porta, eu estava lá. E ela perguntou;

“Vão derrubar minha casa, não é?”

“Sim. Parece que vão fazer isso mesmo. Sinto muito.”

Ela se agarrou na máquina de costura. Dezoito prestações e apenas dois meses de carnê pago. Botaram o barraco abaixo. De lá de dentro...nossa como era sujo! A pobreza te faz perder os bons hábitos, ou eles simplesmente se tornam uma questão menor dentro da imensidão pobre. Não sei, realmente. Mas ela ouvia o barulho do mar nas pedras. Então o barulho do mar nas pedras compensa um pouco a sujeira e tantas prestações pela frente? Sim, claro. Cada um é majestade do seu reino, penso. Mesmo que seja um barraco de tábuas no Costão da Niemeyer.

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Pelo meu coração, um músculo caloroso mas, de carne de segunda...por ser tão duro...Por ele, infelizmente tenho de confessar: desaprendi a chorar quando vi que estava sozinha.

2 comentários:

fmaatz disse...

sua dureza é triste,
mas você falando disso é bacana.
o mundo é cheio de gracinhas, né não?

ls,shklcav disse...

a vala comum deixa pessoas sempre à deriva. o "sempre" é que é o foda de engolir. vai ver, é oque enrijece, também..
beijo