16 de abr. de 2009

Manifesto Gonzo



Como me envergonho de ser jornalista! Às vezes tenho vergonha de dizer e sigo falando que trabalho com comunicação social. Em tempo, fui demitida do meu último emprego. A verdade é que eu não obedecia o chefe, sim essa é a verdade. Não dá pra mentir... eu não gostava do ambiente de trabalho. O pessoal era um tanto ignóbil bem diferente do que imaginei, caretas se querem saber. O que acontece é que o jornalista tem hábito de fazer juízo de valor - que não lhe cabe - sob os fatos jornalísticos. Em suma, ao invés de apenas reportar o que acontece, ou subverter - que seria lindo - eles acham que podem julgar, e na maioria das vezes - porra - condenam agarrados a um moralismo típico de onde saíram: a classe média. Por um lado, temos de reconhecer que as assessorias de imprensa estão cada vez mais afiadas na arte de ludibriar, não há outro nome para o que fazem; os mais inteligentes, mais ardilosos profissionais estão por trás daqueles releases da polícia militar, secretaria de educação e outros órgãos que todo mundo já sabe: são tretados - melhor gíria não há. E paga-se bem ao assessor, no meio jornalístico quem não quer uma assessoria? Trabalho apenas nos dias de semana, os feriados garantidos, benefícios e a certeza de que não se chegará aos 40 com bolsa debaixo dos olhos. Eu mesma já fui assessora de imprensa. Tinha trêtra no que eu fazia? Ô... Saí fora. Preciso de dinheiro, mas na época eu comecei a ficar deprimida, sim sim, uma atitude infantil. Até parece que não tenho filha pra criar...
Bom, esses são os assessores. Agora querem saber quem são os trabalhadores das redações? Estagiários. Uns 80% deles são estagiários, ganham em média um salário mínimo - quando muito - e fazem todo o trabalho, inclusive o de lidar com os assessores de imprensa. Então vamos raciocinar: coloque uma raposa, apenas uma, em um pasto cheio de ovelhinhas e você verá o estrago que bicho faz. Assim são as coisas. Secretários, policiais e coronéis também são brilhantes, e ainda, olham nos seus olhos te convencem que o céu é o inferno e que o capiroto tem apenas um chifre - ah sim, muitos jornalistas ultimamente viraram evangélicos, pouquissímos são macumbeiros e raramente encontramos um que seja ateu. O resultado dessa é jornalista tomando partido de secretarias, prefeitos e - no Rio o que é pior - da polícia. É fácil ouvir; "maconheiro tem mesmo é que apanhar". E você se pergunta "Mas quem é esse zé ruela pra dar tal pitaco?". Bem... eu já expliquei.

Porque eu fui ser jornalista

Primeiro a faculdade de jornalismo é um horror, é nada mais nada menos do que quatro anos de uma reles cultura geral - não precisa ir pra faculdade para isso - um aparato de coisas que no fim das contas transforma o cidadão em uma colcha de retalhos, um poço de cultura de fragmentos. E repeti matérias na faculdade, ontem mesmo fiz uma prova de TV, tinha de fazer um script, tenho certeza que errei. Assim como tenho certeza de que o meu futuro é um pouco nebuloso, dentro do jornalismo é claro. Nada que seja triste, apenas difícil. Em 2004 estávamos eu e Carolina dentro de um ônibus e ela disse;

"Você deveria ser jornalista, Camilla."

"Por que?"

"Você não gosta de escrever?"

"Eu gosto, sei lá, fico escrevendo mas eu sei que tenho algum problema mental."

"E tem outra coisa..."

"Hum"

"As pessoas contam a vida delas pra você. Elas se abrem em dois minutos porque sentem que você tem muita curiosidade sobre elas."

"Então eu não deveria ser psicóloga?"

"Não, não mesmo."

"Por que?"

"Você apenas quer saber, não tem a menor intenção de ajudar."
Não é bem assim.

2 comentários:

Fabiana Mendonça disse...

Camilla Lopes TÁ no céu, fia. Tu escreve pra caralho. Beijo.

celia.musilli disse...

Muito legal este post, Camila...Verdadeeeiro e me solidarizo com vc como jornalista, entre a cruz e a espada: de um lado as assessorias e de outro redações repletas de inocentes úteis, todos recém saídos das faculdades e louquinhos pra trabalhar, odedecendo aos chefes , coisa que a gente não faz...rs. Então ficamos a meio caminho, sem emprego e sem muita saída..Ah! se eu tivesse feito Psicologia..bem que as pessoas tb se abrem comigo..rss. Mas nunca viveria sem escrever, aí...deu no que deu...Um beijo e bom feriado!