22 de mar. de 2009

Memórias do ano mais pobre de toda a minha vida (prólogo)

Bem, mais ladeira abaixo eu não pretendo descer, no entando, não quero esquecer do tempo em que fui mais pobre. Hoje estou mais pobre do que nunca estive antes. Deixe-me explicar: sempre trabalhei muito, tinha dinheiro. Eram dois, três empregos de uma vez só. Saía pra beber, comprava roupas, jantava, convidava amigos pra beber quando eu podia. Com isso arrastei o curso universitário de jornalismo mais do que deveria. E agora, corro para me formar com aulas pela manhã e a noite, em um ritmo frenético e apenas um estágio que me paga praticamente uma cesta básica. POR MÊS. O que ganho hoje em um mês, já gastei em um dia. 

Mas estas não são as memórias de uma paty, são o caminho para eu me situar de verdade no que acontece, porque até então eu tinha a impressão de que estava sentada em um teatro de arena vendo um show de horrores (não entenda por mal) que era a minha vida. Eu vi a vida passar, em resumo. 

Entrei na faculdade tarde, e me envergonho por isso. Também tive filho cedo, e também não acho que tenha sido legal, no entando, se a ordem das coisas tivesse sido outra eu já estaria morta. Porque se não tivesse tido uma filha, teria tido uma overdose, se não tivesse demorado a entrar na faculdade, teria feito o curso de história.

E se eu tivesse feito o curso de história?

A vida seria bem mais fácil. Eu não seria tão fútil, logo tudo ia sair mais barato. Militantes do Psol não gastam muito dinheiro com roupas, nem lanchinhos caros, elas tem mais com o que se preocupar. Agora veja, eu tenho 28 anos, me comporto como alguém de 23, penso como alguém de 14, prospero como alguém de 80. Acha mesmo que a vida financeira de um ser assim pode estar às mil maravilhas? Que nada. Eu não sou de lamentar, sou de concordar. Virei atéia recentemente, pode ser que tenha a ver com a falta de grana. Mas prefiro atribuir o desespero à literatura e não aos castigos divinos. Uma coisa romântica, sei lá... Os anos de Henry Miller em Paris, mas com muito menos sacanagem. Infelizmente.

6 comentários:

noone disse...

nao comecar a pensar no que poderia ter sido e nao fui, eis o que me salva por mais uma noite.

Coral disse...

Hum...nem sei comentar. Mas queria.
Em Algum Lugar do Tempo.

Roberto Ilia disse...

Camila,


Saudade grande de tu...

breakfastnopantheon disse...

oiee,

adorei o texto!!!! acho que esse tb foi um dos melhores do teu blog.

bjs

Daniel F disse...

Oi Camilla,

como fiz história, e tudo dentro dos conformes, quero dizer pra você o resultado: uma vez fui a um congresso em Porto Alegre, tinha um onibus que ia deixar os congressistas nos hotéis. Por um momento, achei que tivesse entrado no onibus errado, no do Encontro Nacional dos Gerentes de Bingo. é isso o que acontece com quem faz história.

Raquel disse...

nem todos os estudantes de história são militantes de esquerda, mas vá lá, teu futuro como jornalista é bem mais promissor do que um futuro como professora de história. hehehe