Porcos não interagem

Saio para conversar com R. e M. gosto imensamente deles. Falamos sobre várias coisas, inclusive sobre a covardia que é chutar cachorro morto. O livro de R. não tem título, mas tem quase oitocentas páginas. Perguntam do meu, eu digo que não estou fazendo nada dessas coisas este ano. Nada de literatura, mas tenho me dedicado o jornalismo. R. critica as mesmas coisas que eu, inclusive o vazio dos outros. M se concentra em ser o epicentro de três pessoas. Ele diz que tem um jacaré no forte de Copacabana, e R. acredita, chega a ser levantar da cadeira para olhar. Eu alerto do absurdo. E ele cai em si. O desligamento é uma característica comum a nós três. Mas somos ótimos, juntos ou separados. R. quer ir a uma lanchonete. M. prefere comida chinesa. Tiramos fotos na estátua de Dorival Caymmi, que parece a estátua de uma das três tartaruagas ninjas. É realmente muito feia. R. acredita que uma fulana inventou um câncer para se separar do marido. É um absurdo isso, eu digo. Ninguém é tão mau caráter assim. Ele está convencido, M. espera minha reação para concordar ou não. Eu não acredito que alguém invente um câncer. Com eles eu me sinto à vontade para falar da minha teoria sobre vegetarianismo e esse tipo treco. Eu defendo para eles a idéia que não tem o menor problema comer bichos que não interagem. Vaca, porco, coelho e peixe não interagem. Você pode criar um coelho durante anos sem que ele se digne a olhar na sua cara. Niguém tocou no assunto intocável. Ninguém toca naquele assunto comigo. As pessoas fingem que não sabem, eu não conto. É assim que se sobrevive eu penso. Quando lembro, já esqueci.
Hoje a música que eu mais gosto é I´ve got a feeling.