3 de dez. de 2008

Milagres não passam de blefes bem sucedidos

É impossível fugir à impressão de que as pessoas comumente empregam falsos padrões de avaliação – isto é, de que buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas e os admiram nos outros, subestimando tudo aquilo que verdadeiramente tem valor na vida.

Freud

Eu preciso falar sobre a Arte de Blefar. Quero dizer que de todos os meus tortos se salva a capacidade de interpretar em minutos uma situação ou uma farsa em pessoa. Pessoas farsantes, se me permitem. O mundo está cheio delas. Basta você sacar os títulos, os nomes das profissões e sobretudo, o mais perigoso, a autointitulação. Quer um exemplo? Escritores. É barato ser escritor, você só precisa de papel e caneta, ou de um financiamento das casas Bahia. Escreva algo, finja ser um sujeito maldito – aliás uma boa desculpa para o fracasso, muito embora eu acredite piamente que nem sempre os malditos e os desconjuntados sejam fracassados, há de se ter cuidado. Ah, eu sou escritor... Mas você publicou um livro? Alguém leu? Não, eu tenho um blog e minha “arte” bla bla bla. Aí você arruma cinco menininhas deslumbradas com as primeiras letras lidas nos anais da Lispector ou Cortázar – eles gostam de Cortázar porque parece difícil – e pronto. Já tem um público para o escritor maldito. O escritor maldito, tem um amigo feio. O amigo feio não tem sucesso com as menininhas porque ele é apenas feio, nào é maldito e embora leia bastante não acredita que seja um escritor. Ele acha o escritor maldito o máximo e acredita de coração que ele seja grande coisa.
Mas ele não é. Ele é uma farsa em si. Mas é “o escritor” será divulgado até demais ouvidos que não tem provas cabais da falcatrua que é a autointitulação. E pronto temos aí um fraude.
O mundo está cheio de fraudes. O milagre não passa de um blefe bem sucedido.

Muitas pessoas acreditam que a pirataria do sucesso é o sucesso real. Um jibóia sabe fugir da inuncação buscando abrigo em uma árvore. Uma jibóia tem a capacidade de fazer isso. Conheci e amei pessoas que deixaram-se inundar. E nunca mais voltarão.

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