
Estava com insônia esta noite. Não costumo nunca ter problemas pra dormir, mas apaguei no final de tarde e acordei pela madrugada. Ah, a tv cable, praticamente é impossível viver sem ela. A TV aberta evacua sons pertubadores a respeito do anúncio de um filme a ser exibido amanhã, quer dizer, mais tarde.
“Uma história que vai deixar essa galerinha de cabelo em pé.”
"No circo do faustão essas feras vão botar pra quebrar."
Por que alguém vai pra faculdade e quando sai de lá escreve textos para um locutor evacuar pela boca? Tá certo que obrigatoriamente os textos devem ser pensados a fim de atingir uma amplitude social. Mas acho que que subestimam a capacidade de entendimento das pessoas a um nível abaixo de cu de cobra, se eu posso afirmar isso. Ah, sim eu posso. Bem, eu sou protegida por um certo – e pequeno- acumulo de informações que não me deixam cair na aramadilha. Não que isso seja vantagem, é só uma característica.
Por que não tenho lido? Enrolam minhãs mãos “Crônicas Marcianas” do Ray Redbury com um enorme prefácio do Borges, em que ele diz : toda a literatura é simbólica.
Ah, a reputação... Nunca cuidei da minha, acho difícil. Para manter uma boa reputação em casos como o meu, recomendo a solitária. Amigos que no outro dia alardam;
“Eu vi o que você fez.”
Viu, é? Bem há tempos atrás eu comprei um livro chamado “Manual do Hedonista”. Decidi seguir à risca.
Eu estava numa boa em casa. Sozinha. Então alguém toca na campainha, corta o meu barato. A vizinha vem vender Avon (parece frase de cartilha escolar). Entra em minha casa e então parece que tem cinco cabeças. Olha tudo, nossas fotos, o vinho em cima da mesa, o cigarro na minha mão, e até o que está na tela do computador. Sou muito educada, como sempre faço para disfarçar. Então ela pergunta;
“O que você faz?”
“Tô me formando em jornalismo, trabalho numa rádio.”
“Ah, a minha cunhada também é jornalista, mas ela trabalha no Sesc. Vou dizer hein, vocês não tem tempo nenhum, né? Tudo na casa dela é com a empregada. Não dá para dar atenção aos filhos. Você tem uma filha, não tem?”
“Tenho, de oito anos” (saco, já conheço o drama das donas-de-casa da zona norte em relação a minha vida.)
“Ah. Pois é não tem como dar atenção. Eu nunca trabalhei fora (porra, ela nem era velha, tinha uns quarenta anos.) Mas sempre dei atenção pros meus filhos.”
“Olha minha querida, acho que o importante aí é a qualidade das horas. A propósito eu não vou comprar Avon.”
“(ela era mesmo sem noção) E o pai da sua filhinha?”
“Ele mora em Dubái. Vou dizer pra minha mãe que a senhora esteve aqui, ok?”
“Ah sim, eu atrapalhei o seu trabalho, não foi?”
“Foi, mas eu te perdôo, um beijo no seus filhos (um casal de gêmeos adolescentes, horrendos.)”
Agora quando nos encontramos, ela me cumprimenta friamente.
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