Estou da janela vendo a Valentina em sua primeira aula de handebol. Na verdade não é bem handebol, e sim uma mistura de queimado com handebol, um treco bem violento. E a Valentina está crescendo um tanto medrosa. Eventualmente, alguma criança dá uma porrada nela e ela insiste que eu vá fazer alguma coisa a respeito. O que não atendo, ela tem que ser durona ou então vai sofrer a dor de ser encruada em si mesma.Um murro que nunca foi dado, a raiva contida, o mundo é de fato um útero de tubarões. São crianças da favela, os colegas da Valentina, acho que assim quem sabe, ela fique mais esperta.
Então lembro de mim, a minha agressividade física era uma tortura para os meus pais, e não havia motivo. É difícil dizer, tenho inimigos da fase pueril, juvenil e retardada da minha vida. Uma vez me ennvolvi em um briga tão violenta que a garota quebrou o meu dedo, e desloquei seu ombro. Uns quinze anos, minha mãe resolveu, assim como resolveu a questão dos hematomas nas costas da menina loirinha que foi à Disney ver o Mickey. De qualquer maneira, era como se a arte bélica me bastasse para suportar um certo desconforto de quem vê a festa do alto do muro. Não basta. O calibre é grosso e eu tenho munição de sobra, sou quase um Charlton Heston em defesa das armas. Atirar muito antes do primeiro pensamento de terceiros;
“é covarde!”
A covardia dos violentos, talvez não parta de uma insegurança. Os brutos, os toscos , assim...igual a mim ,perdem os colhoes imaginários, diante de uma provável fragilidade alheia, tão pura, tão insana que lhes é invejável.
Talvez ... quem sabe dizer... Um dia minha sala de armamentos tenha sido inundada e todo o calibre, enferrujou. Ou quem sabe, os mais modernos fuzis não pertencem a minha geração de brutalidade ... ou simplesmente cansei de brigar.
3 comentários:
Dureza isso de ser mãe.
Mas acho que se é da essência ser medrosa não sei se as porradas mudam alguma coisa, talvez muito papo.
O pior de tudo é que na escola as coisas podem ir escalando e se perpetuando, e todo mundo se acostuma a tudo, inclusive quem bate a bater e quem apanha a apanhar.
E quando se está na escola o seu mudo gira em torno da escola, o seu mundo *é* a escola, se vc é sacaneado lá é como se hoje em vc levantasse pro trabalho e o porteiro te desse um pescotapa, o trocador te desse um cuecão e assim por diante e são coisas que moldam principalmente pq ficam pra sempre embaixo dos tapetes, fazendo aquele voluminho.
Não sei se esse post era ficção, mas sempre respondo como se não o fosse.
bjo
Porrada não leva a nada
Silencio é arma bem mais certeira
O mundo acaba "Not with a bang, but with a whimper" (ELIOT)
Tea doro amiga!
bjs
Douglas Gamma
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