
Tive três casamentos. Todos eles duraram aproximadamente dois anos. O primeiro me trouxe uma criança, e eu só me casei por causa dela. O segundo um par de chifres e um pouco de loucura. No terceiro aprendi a contar melhor do que nunca, uma vida resumida em números: 600 km de distância, dois em dois meses, cinco dias, duas horas para o avião partir, seis horas de ônibus, uma hora ao telefone, sessenta reais de vinho... Não digo que me casei os moldes tradicionais, claro que não. Olhe para mim e veja se eu sou o tipo da mulher que fica noiva? Deixe -mos esta etapa para as estudantes de medicina ou pedagogia. Casamento patrocinado pelo papai, prestações da casa de festa e se o casal for do tipo "casas Bahia" muito estrogonofe no bucho dos convidados. É, fácil ser feliz sobre pisos de porcelanato. Já eu, se me casar com cerimônia, tenho certeza de que será o evento mais idiota de que vou participar. Mas não me darei conta disso. Estarei xarope, zen - budista ou macrobiótica, cuidando de uma ong, casando com um cara mais novo e metido a artísta plástico. Vejo que este destino é comum para pessoas que algum dia, tiveram um futuro promissor, no entanto caíram muito na gandaia, se apaixonaram vezes demais, sofreram vezes demais - os neurônios não aguentam. Também não há neurônio que resista a constância de dar explicações ao mundo, essa tentativa diária (e frustrada) de provar que não se é louco, ou se for, ter noção disso. Agora vamos juntar tudo, tirando um pouco de gandaia, mas não imagine uma vida limpa, pense em ocasionais festas e becs, talvez outras droguinhas leves, eventuais situações de risco, uma ou outra festa de arromba, reveillons com bruxas, fuguinhas dissimuladas da polícia, mais as paixões e os sofrimentos. Em relação aos sofrimentos, há se levar em conta que também sofro pelos outros, que tenho síndrome de heroína e choro pelas crianças de doze anos viciadas em crack. Menos alguns milhões de neurônios e pronto: temos aí uma mulher de quarenta anos e um casamento zen - budista com um artista plástico de trinta. Quero só ver.
Um comentário:
Balzac!
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