Take look my gilrfriend...Ah, eu me lembro de como conheci Supertramp, indo diretamente ao show. I a loser, i a joker. Com ela...Renata, grande Renata, linda morena bêbada, com roupas pretas, mas não góticas, o preto da elegância, da ligeira decadência e que guarda com responsabilidade aqueles dez por cento de decadência que têm os boêmios por esporte; Taí que Renata era uma boêmia por esporte, eu no mínimo, uma aprendiz das manhas de uma certa malandragem que nós, eu com 16 ela com seus 23 anos, jurávamos que tínhamos. Estávamos a mercê da própria sorte no trajeto do bar até nossas casas, mas vale dizer que nossos planos de saúde estavam em dia, eu tinha carro com motorista e jantávamos uma com a família da outra, pelo menos um vez por semana, chapadas ou não. Se existe um feminino para os Dandys, éramos nós, com nossos perfumes inesquecíveis e barracos enjoados quando o dia clareava. Ela dizia, que quando eu estava bêbada desfazia dela, não era verdade, eu a amava, como ainda a amo; e parte disso tudo, era ela a me fazer gargalhar quando tropeçava nos saltos agulhas e catava os seres mais grotescos da noite, imaginando um amor que lhe tirasse da nossa vidinha vai e vem. Quando a conheci, estava em meio ao sargaço da praia de Boa Viagem, esperando nada, torrando ao sol, incrustrada na possibilidade de não me convencer que a humanidade me faria feliz - neste momento eu olhava para as famílias e garotinhas de pés bonitos - não, eu não faria parte daquele projeto. E então Renata chegou com uma estória: pegou uma qualquer pagando um boquete para o namorado - entendi a gravidade da traição flagrante, mas veja, eu nem tinha feito boquete em ninguém, ainda. Nós, garotas de família, moradoras das áreas nobres, e trasbordando emoções que não convenciam ninguém da nossa normalidade.
"Quebrei tudo. Tudo! Mas, sinceramente...tô arrebentada por dentro...uma dor que me consome, dói aqui, queima aqui."
A primeira frase dita por ela, e que pela exposição intensa da ferida, me fez amá -la imediatamente. Então eu disse, no alto dos meus dezesseis anos e de uma virgindade perdida da semana passada;
"Então vamos comer algo lá em casa e mais tarde vamos beber, eu pago. Gosta de caipirinha?"
O início de uma vida em conjunto, um conjunto binário, começava na quinta, terminava no domingo e na segunda, eu tentaria em vão dar duas braçadas na piscina...acho que foi neste período que me desempenho de atleta foi para o saco. Uns cinco bons anos nessa vida, e um fim de semana que quase fomos mortas na favela dos Coelhos. Ela sempre ria no final, como se um trinta e oito enfurrujado apontado pra cabeça não fosse nada demais, e se levar em consideraçao o nosso ritmo, nem era...Logo aconteceria outra coisa mais importante... tudo bem...mais escatológica; como achar uma bolsa de mulher e devolvê-la para a dona com todos os cartões e quantia em espécie, mas sem os ansiolíticos, devidamente roubados por nós, divididos em partes iguais e digeridos com vodka roubada do bar do meu pai.
Alguém teria de fazer lavagem estomacal e não seria Renata, alguém ia ter taquicardia da braba na boate, alguém teria de tomar glicose & plasil, e não seria Renata. Ela parecia um camelo, um centauro talvez, não desabava nunca, vá lá que era esperta, mas não era de grandes reflexões como eu sou. Grande coisa. Como tudo, como sempre, tivemos o nosso início do fim, a linha de chegada imposta naturalmente pelo anúncio da minha gravidez - enjoei dos cigarros, foi assim que descobri que algo havia mudado, enjoei do cigarro e dispensei uma lapadinha de tequila bem no show do Supertramp. Alguém acertou o olho de Renata e ela veio me buscar para um auxílio, lembro de ter enfiado o pé em algum lugar que o tenha prendido, lembro do segurança ter dito que aquela casa de show não era para nós duas, lembro de Renata ter tentado me enforcar e me chamar de traíra, porque na hora do rolo, apaguei, enjoada até a alma. Pouco tempo atrás ela me disse que um cara tentou currá -la no banheiro e a namorada se enfezou com ela e a chamou de "atora", ela seria uma grande "atora".
Falo sempre com Renata, que hoje tem uma filha também, mas diferente de mim ela não estudou - tem família rica - , faz artesanato, e vive sua vida no Second Life. Para que fique mais ou menos esclarecido, Second Life é uma espécie de vida virtual onde você pode escapar da sua vida loser, apagar o seu passado real, ter dinheiro, enfim...é a matrix do engôdo. Como pode, a Renata, a minha Renata louca do batom vermelho ter me feito uma proposta tão indecente, a ponto de me fazer ter saudade do passado embolado? Como pode esta mesma Renata, a grande amiga, irmã que eu não tive, ainda generosa ter dito exatamente isso;
"Milla, entra no Second Life, tô namorando um carinha de lá há um ano e meio, ele mora na Argentina, mas em breve virá ao Brasil. Entra lá que eu te empresto uma grana pra você não começar do zero."
Disse a ela, que não se preocupasse, como sempre faço, vou preferir começar do zero. Resta a saudade dos velhos tempos e um reza, meio emputecida para Deus; para que Ele não transforme ainda mais a minha amiga em um idiota completa. Que Ele se limite a fazê -la pagar os seus pecados, assim como eu pago os meus, todos os dias da minha vida. Goodbye stranger.
4 comentários:
Belo texto!
Oi Camila,
Sumimos não é? Você andou postando umas mensagens cortantes, profundas, seminais. Eu também tava sumido. Ai meu amigo Igor me convocou ao trabalho. Mandei um post para o blog do Igor, http://alexeievitchromanov.zip.net
Dê uma passada lá e comente.
Será bom ouví-la (sic) de novo.
Abraço do Roberto
"Se existe um feminino para os Dandys, éramos nós."
lindo isso.
seus textos são muito interessantes, tenho a impressão que vai da realidade a ficção e vice-versa. Mas isto não importa e sim a beleza do texto.
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