29 de dez. de 2007

Verão em Ipanema é o fim do mundo


O fim da vontade em prol da extinção de certa agonia ansiosa. E fora eu ser a garota detestada do lugar, nada mudou. E digamos, se eu demorasse mais um pouco a me sacar, o resultado seria uma velha gorda, do tipo que inferniza porteiros, pede cigarros derby pelo interfone e come um galeto inteiro aos domingos - desculpe, não falei da cerveja de baixa qualidade e da boceta não mais depilada, verrugas... A velha que passa o dia de robe. Ou a velha – essa existe e não sabe usar delineador nos olhos, fica na diagonal, tudo cagado - que saiu de Minas, trabalha no comércio de Ipanema e veste a personalidade de suas clientes chiques... no entanto mora no maior muquifo da Visconde de Pirajá, bem em cima do Bob´s. Ela acorda respirando um ar de queijo cheddar. As roupas mal secam na quitinete, mas ela está em Ipanema, pinta os cabelos de loiro, corre na lagoa, paquera os homens do Baixo Gávea e maltrata as garotinhas gostosas. Tá tudo bem, a frustração não tem cheiro de chocolate... É azeda, prefiro não saber. Mas conheço o cheiro, antes ela do que eu, da inveja que eu não sinto de ninguém. Mesmo que - tenho de dizer, por favor - a minha estima por mim mesma, esteja mais profunda do que raiz de Jacarandá. A beleza parece não vir e optei pela descrição, estou até treinando falar mais baixo. Mandei a velha que maltrata as mocinhas se foder. Ela disse que não há necessidade de que lhe toquem a cabeça, eu disse que na verdade ela é “da macumba”. Assim como eu sou do tipo que é “da maconha”. No fim de tudo quem ameniza o meu dia é a cretina da Rocinha, o ar condicionado dela passa o dia inteiro ligado. Certo, e eu pago a tua conta por que moro no asfalto? Mas ela gosta de mim e eu prefiro mil vezes a companhia da classe baixa, pela diversão e variedade de assuntos. Ó, se tu for dá o cu, usa calypso, só no cuspe não dá. O calor traz uma porção de viados para essa cidade, nada contra, mas fica difícil você saber quem é o quê. Tava olhando pra um carinha, e de repente o cara ao lado belisca a bunda dele para marcar território... Ninguém entende porque detesto Ipanema. Ipanema é o resumo do caos que o mundo será daqui a uns vinte anos e se você percebe isso, como eu percebi, tem tempo de se programar para dar o fora dessa cidade. O quanto antes, se possível.

2 comentários:

Dom disse...

você é uma daquelas que usa a literatura como vingança.
eu gosto disso.

Camilla Lopes disse...

Dentre outras coisas.