31 de ago. de 2007

Fragmentos do primeiro trabalho que joguei fora



Segue um pedaço do meu romance, o primeiro que eu começei a escrever em janeiro e que joguei fora como todo o resto do que eu faço. Faz parte do processo. Mas hoje relendo, eu acho engraçado o meu desespero por um enredo.


Pau pequeno anyway
cap.6

A tal modelo, Luna Abatti gostava mesmo da cara dela, havia retratos da mulher por toda a sala. Durante duas horas ela me tratou com desdém. A loura má, seu nome era Luciana, ex - miss e sabe -se lá o que ela foi fazer na Itália. Luna poderia enganar Gravataí, mas eu, ah...Eu morava em Copacabana! Ela achou que faria uma entrada triunfal descendo as escadas, eu virei o olhar para a janela e fiz questão de não ser platéia das suas pernas naquele vestido decotado. Disse que deveríamos subir e sentar na varanda de cima e começou a falar - disparou como o cantor de sucesso que quinze anos depois canta a musica que o fez estourar nas paradas, essas coisas de repertório. E no meio disso tudo, ela falava do marido Giulio Abatti, o italiano. Mostou a foto: era careca, e eu tava o meu focinho a tapa se ele não tinha o pau pequeno. Pau pequeno anyway...
"Você pode me dar água?"

Luna respondeu qualquer coisa como; "A empregada está lá embaixo..." e mudou de assunto, que se fodesse a minha sede. Continuei a perguntar sobre a casa dela em Milão, sobre as grifes preferidas e um monte de outras merdas que juntas formavam aquele ser maldoso. Eu senti o cheiro da maldade vindo dela, o cheiro da sacanagem, da tripudiação. Pensei em enquanto olhava para aquelas lentes de um falso azul turquesa, qual era a vantagem nisso tudo. O conforto e o luxo, mas Giulio - eu nunca me engano - tinha o pau pequeno. Ela de fato queria que eu demostrasse ser uma honra estar perto dela, porque aquela cidade repetia o seu nome em exaustão, como se ela tivesse feito alguma outra coisa senão abrir as pernas em outro lugar mais rentável que Gravataí. Quem seria ela em Copacabana? Apenas uma entre várias. Qual é a vantagem em não poder trepar de quatro? Homens de pau pequeno não conseguem comer uma mulher, de quatro. Nem em pé.
A última coisa que Luna me disse foi:

"Nunca conheci alguém que soubesse tão pouco de mim quanto você. Mas de onde foi que você saiu?"

Eu saí de onde nunca deveria ter saído. Saí da segurança do apartamento, da minha poltrona, do meu canal de televendas e dos dias e das noites que tanto fazem. Eu saí da minha parcimônia. Só vim para essa cidade na esperança de ver estrelas... Vi coisa melhor horas depois enquanto editava a entrevista, resolvi pesquisar sobre Luna e joguei seu nome no mundo virtual. Um site de fotonovela italiano chamado "Amore" para casais heterossexuais, cada história um clique. E para a minha felicidade, em uma das sujestões de clique, a foto de Luna com uma tarja no peito nu que dizia: "Clicca sul mio topless*" e convidavava o leitor a conhecer a história de Gabriela, uma "braziliana" de férias na praia da Senigália que conhecia um turista enquanto fazia topless e bronzeva seu corpo, faziam "amore" em uma cabana. Claro que ela fazia um boquete nele e em uma das fotos o homem pauzudo, ejaculava nos peitos bronzeados graças ao topless.
Indiquei o site no fim da matéria com o propósito de que os leitores da cidade conhecessem os trabalhos de Luna na Itália. Munida de senhas, lá estava a matéria de Luna no ar de Gravataí. Eu poderia, se caso houvesse em mim uma sensibilidade, ter me magoado com o tratamento hostil e gratuito que recebi da loira - engodo. Mas como se de alguma forma eu antevisse, usei a melhor das armas para um cínico - coisa que nunca fui - me fiz de boçal para de alguma forma me vingar depois. A vaidade na lama, quem não tem nada, nunca terá e o que se pode comprar serve para apenas para enfeite. Bibelôs dos soldadinhos infernais.
Fui embora com Catarina, não contei o que eu fiz, mas de alguma forma ela iria saber. O melhor de tudo, era ver que agora a minha vida não andava sozinha em rotinas impostas para o desvio da loucura. Agora eu tinha o controle, eu me vingava, eu viajava e caminhava mais perto da maldade do que do marasmo e isso indicava estar cada dia mais perto da felicidade - sem grill e sem os canais de televendas.