21 de jul. de 2007

A cica faz esquecer a ardência


Renata toma "drogas virtuais" e vai a boate do second life. Hoje é assim, mas existiu um tempo em que nós saíamos com dez reais e voltávamos com o troco. Completamente chapadas de tudo, o dia amanhecendo e ninguém com sono. Uma vez eu disse que aqui no Rio, céu do amanhecer é lilás, em Pernambuco é quase violeta às cinco horas da manhã, e é quente.



Decoro sempre o amanhecer de qualquer lugar, depois de trinta quilômetros, é diferente . Em Porto de Galinhas vivi a imensidão de se estar só, na praia onde em um raio de dois quilômetros,... nem sombra de alguém. Apenas eu, a água que molhava os meus pés, o tal céu e minha consciência que naquele momento aparecia para só parame dar bom dia, depois ia embora. Nessa manhã em questão - e ela foi única - eu quebrei a fechadura da casa de praia da família de Renata, que conhecia a minha família também. Nós tínhamos dinheiro, uma praia, nenhuma regra e lugares onde nos enfíavamos a partir das seis horas da noite. Porém tanto ela como eu, possuía nas veias, um veneno solitário e nos separávamos quando a noite já ia alta.



Na vez da fechadura, antes de eu ter forçado a porta, ainda no portão, o caseiro bebia alguns tapas de cana de cabeça e chupava um pedaço de um caju a cada gole. Ele disse;



" A cica faz esquecer a ardência".



Resolvi experimentar e uma fechadura foi quebrada. Conversaram e depois das minhas mais sinceras desculpas e algumas frutas que ofereci - tendo de ir ao mercado logo depois de um banho, com muita dor de cabeça - me livraram do débito. Eu vi quando o Rei Leão, namorado da semana de Renata - ela não era volúvel, mas se corportava mal e tomava muitos drinks, que nem eu - passou, ainda cedo, nem me deu bom dia. Era um idiota que administrava uma pet shop altamente horrorosa. Sério mesmo, de sunga fininha e cabelo tingido de loiro, o tipo do cara que não dá para ser levado a sério, e ele não aceitava que eu o levasse na chacota. Quando Renata arcodou pela hora do almoço, seu quarto cheirava a cerveja de tal forma, que eu abri todas as janelas para poder conversar com ela. Então contei do Rei Leão. Nunca mais esqueci o que ela disse;



"Então deixa. Eu vou sair agora e encontrar um cara. Vou ficar com ele na frente dessa cidade inteira... porque fama de bicha, Camilla... dá pra tirar. Mas fama de corno, o cara se fode todinho".



Pouco depois disso Renata se livrou do Rei Leão, e eu vim pra cá. Não nos vemos por um período de cinco anos, até ela me ligar dizendo que estava em Búzios com um namorado argentino que fazia malabares no sinal. Eles haviam terminado e ela me pediu que eu fosse lhe buscar na rodoviária. Nunca vi tanta areia no meu quarto, quanto no mês em que Renata esteve hospedada em minha casa. Ela vendia macramê na praia e depois ia dormir no meu quarto. O mesmo cheiro de cerveja amanhecida que saía dela. Ela me fez ir pra Lapa e eu a vi cheirar pó com um viciado mudinho - uma cena engraçada e feia. Lembrar dela me dá crises de riso. Ela engravidou de um argentino/uruguaio... ela não sabe, aposto.No entanto, parece que ela cria bem a filha junto da família. E vai ao second life... bom pra ela.



Estamos mais calmas e talvez seja por isso, faz muito tempo que eu não tenho um amanhecer imenso. Casei com a minha consciência. Ela é como uma esposa gorda, desbocada, esparramada em intrigas e que me cobra uma pensão muito alta de atitudes que na maioria das vezes... eu não quero tomar.




*essa foto foi tudo o que sobrou.

Um comentário:

rapagote disse...

melhor post do blog inteiro.