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Todos os dias ele vinha aqui. Não foi o caso de asco, pelo contrário. Eu fugia dele por não resistir. A culpa é minha? É. É minha sim. Eu não fujo disso e vou levar comigo para o resto dos meus dias. Mas há a diferença de eu aprender a conviver com a culpa. Isso é para poucos, e eu vou estar nesse rol. Porque é tudo o que posso fazer, além de guardar as recordações de alguém que eu dia amei. Com alegria, com agonia e com uma esperança que foi embora. Contra os meus próprios princípios burgueses, digamos assim, acima da minha vidinha classe média. Onde eu encontrei o efêmero, a loucura e também a desesperança. Que me tirou a capa de boba-alegre.

Se eu pudesse dizer que encontrei uma vida ao meio, e ao meio-fio... O meu resgate não foi capaz de se concretizar. Eu não me importei com o papel de repressora, não me importei comigo durante algum tempo. E segurava suas mãos de dedos achatados, e mexia nos olhos de ouriço e beijava as rugas do canto da boca. Meu Deus, a intimidade extrema, eu agora mal posso olhar para o meu corpo. O meu corpo foi dele. O bate-bola e a garotinha repetente da escola. Tudo culpa do seu ensino médio deficiente, ele dizia. Você é desleixada com o que escreve, tem talento e não vocação. É.

O que você faz agora, eu dizia, eu já fazia quando você era um puta nerd. Mas parei. Ele não parou, foi até o fim. E brincava de ver até onde ia. No último dia era madrugada e eu acordei as três da manhã; fechei a janela e pensei nele. Fora os melhores pensamentos que eu já tive em relação ao pequeno. Os mais puros, os mais saudosistas. Os melhores. A conexão inconsciente do fim.

O fim que para mim é inacreditável. Eu sou descrente deste fim.