E eu que coabito a casa de espelho (mesmo assim sou tão canalha...)

Você conhece São Gonçalo? Não, provavelmente, não. Talvez você tenha ouvido falar... Ocorre que estou trabalhando na campanha da prefeita que quer se reeleger. Então tome São Gonçalo todo dia, uma barca, um ônibus e voilá, Sanga. Lá é difícil sabe... tem poeira demais, o povo é carente demais, coisas que você não avalia. Não tem rua asfaltada, não tem saúde, mas tem poluição e a cidade começa a dar os primeiros suspiros de urbanização. Faço pelo dinheiro, caguei pra ideologia, você sabe...dinheiro é liberdade e dignidade.
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Agora a vida é em Vila Isabel, gosto dessa casa nova, o meu banheiro novo tem um imenso espelho novo, tem espelho na cozinha também e até defronte ao tanque. Tem muita paz aqui, tirando os passarinhos que cantam em exagero, posso falar a verdade? Nunca fui muito fã de canto de passarinho, e confesso, uma vez matei um com espingarda de chumbinho. Matei mesmo. Não que me orgulho, mas o bicho piava, ou cantava, na verdade esganiçava todos os dias as seis horas da manhã. Até o dia em que eu o descobri. Atirei ele ficou meio zonzo, parecia zonzo...mas tentei pensar em alguém que leva um tiro, numa dessas cenas de filme, aquele ar de desvario, a dor sufocante. Como não sou nenhuma sociopata, eu fiquei com remorso quando um velho, o vizinho, perguntou e eu o ouvi perguntar;
- Nunca mais acordei com aquele canto de um certo passarinho, vai ver que foi embora.
Também senti remorso quando matei um gato, esse foi sem querer. Mas não vou contar isso hoje.

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Fui assaltada, na semana passada. O clássico dito dos ladróes cariocas: PERDEU! E lá se foi o negrinho cheirar crack com minha bolsa Herchtcovich a tira-colo. Talvez eu mereça mesmo ser assaltada, nào sou o tipo de pessoa com sentimentos puros, por exemplo; Convivo com uma garota que tem cérebro de mingau, burra na essência, e apenas o seu renascimento ou reencarnação lhe salvaria de sua acefalia por incapacidade, morou? E todo o dia eu a incentivo, não para um estímulo qualquer, do tipo “vai lá você consegue” não... Eu gosto de vê-la achar que tem capacidade, gosto de vê-la fazendo merda e dizer que está magnífico. Por que, isso Senhor?

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Eu não sei quando vou voltar a escrever para terminar o meu livro. Acho que estou amadurecendo na ambição de ficar podre mesmo e aí sim, fazer algo que o valha.