16 de mai. de 2008

Quando os porcos vão de ônibus

Eu odeio as pessoas que viajam no mesmo ônibus – sentido centro – que eu. Dá pra ver como são mesquinhas as pessoas comuns do povão. Claro que nem todo mundo, mas infelizmente, uma grande fatia do bolo mofado. Ninguém quer ceder, todo mundo só quer sentar a porra do rabo, de preferência na janela. É de manhã, horário de se ter alguma disposição, tanto física quanto amável. Fiz um pequeno diário do que aconteceu esta semana, de terça - feira pra cá;

Terça – feira

Uma mulher acima do peso, não cedia o lugar a uma senhora que deveria ter os seus 80 anos. A velha sacolejava. Eu estava ao lado da velha quando o ônibus freou e tive de segurá – la. Pisei propositalmente no pé da mulher gorda, com o salto do meu sapado. Ela viu que a velha quase caiu e continuou sentada com a sua roupa rosa brega. A roupa rosa brega me irritou ainda mais. Ela disse; “ aaaaiiii, você pisou no meu péeee.” Eu disse; “Ah querida, desculpe, é que fui socorrer esta senhora que quase caiu enquanto você está sentada.” Mesmo assim, a mulher não cedeu o lugar. E eu tornei a pisar no pé dela. Umas duas vezes mais. Sempre pedindo desculpas. Deve ter ficado bastante dolorido, já que eu calçava um salto agulha. A velha desceu rindo pra mim.

Quarta – feira

Uma garota emplastrou o cabelo de creme. O cabelo dela estava pingando em cima da minha calça, com aquele óleo de creme de potão barato. A poça de creme se ampliou na minha calça cinza. A garota estava em pé e eu, sentada. E o cabelo dela pingando. A poça gordurosa aumentava. Então eu disse; “Moça, tem como você colocar esse cabelo pra trás?” E mostrei a minha calça. Dá pra acreditar que ela fingiu que não ouviu? Eu tive de viajar em pé e a porca sentou no meu lugar.

Quinta – feira

Um homem, um popular como tantos que circulam por aí, ria de um travesti que, muito quieto viajava em pé. O travesti percebeu, mas como todos os travestis que sempre ouvem tais imprecações, manteve a dignidade. O homem lia um jornal barato, desses de cinqüenta centavos. Depois de zombar do travesti começou a querer puxar papo comigo; “Esse maconheiro do Gabeira, hein?” A certo ponto o homem me irritou seriamente e eu disse; “Olha só, o senhor deveria ler um jornal melhor”.Ele disse; “E por quê?” Como eu já me levantava para descer, resolvi arriscar; “Porque o senhor é um jumento”. Falei bem alto e desde então, evito a linha 254.

Sexta – feira

Sentada ao lado da janela, descubro um bombom Serenata de Amor que havia ficado na minha bolsa. Me sinto feliz e abro a embalagem com cara de quem presenciou um milagre. A mulher que está sentada ao meu lado observa toda a cena e me vem com essa; “Você como muito chocolate? Porque engorda a beca, né?” Eu pensei... Não respondi nada até terminar de mastigar. Quando finalmente me dignei a olhar pra cara dela, ela sorria em busca de alguma simpatia minha. Mas como eu poderia ser simpática com uma mulher se metendo na minha vida às sete horas da manhã? E então eu disse; “Sabe o que é minha senhora, eu sou uma pessoa muito irritada e estúpida. Então pra não sair por aí sendo grossa com as pessoas, eu como um chocolatinho pra ficar relax”.Ela deu um sorrisinho amarelo de quem encontra lunáticos fugidos e ficou calada. E eu fiquei muito satisfeita.



4 comentários:

Amanda K. disse...

kkkk... maravilha. ainda bem que essas coisas acontecem com vc.

Nilovsky disse...

Qualquer dia experimenta o Central-Belford Roxo após às 17.

Acho que te renderia um romance.

;)

Curti o texto.

[]'s

Leonardo Martinelli disse...

Quem usa Kolene tem mais é que se fuder!
E o bombom Serenata de Amor é um clássico, uma pequena jóia da chocolatria nacional.

Roberto Ilia disse...

Camilla,

Faltou o tradicional tarado encoxando as mulheres. Esse é básico. Em todo ônibus lotado tem um.