Mãe, eu?

Às vezes a minha filha me chama: Mãe, mãe! Eu olho pros lados, chego até mesmo a procurar a mãe dessa criança quando cinco segundos depois eu lembro: Porra, sou eu a mãe dela! É assim, sou meio pata, um pouco desligada demais pra uma mãe. Eu nem acredito que alguém me chama de mãe, eu que penseu nunca ter essa capacidade. Mas veja: Mães sào seres terríveis que competem entre si. Basta você se juntar a elas nas rodinhas de conversa. Eu chego sempre com aquela cara de desalento, como se minha filha tivesse brotado ainda bebê nas minhas mãos, sem um manual de uso - praticamente é isso mesmo. Elas são preocupadas "Não deixo a Jéssica ficar com as pernas de fora, por causa da dengue." A Valentina fica de calcinha em casa. "Jamais eu deixaria o Lucas viajar sozinho, essas companhias malucas..." A Valentina já viajou pra Recife duas vezes, sozinha. Acho que não sou tào boa quanto elas. Não mesmo. Amo a minha filha, mas me falta talento pra ser uma mãe tradicional e me sobra para as coisas menos importantes. Ensinar a dar foras, a se defender, explicar porque o pai do Rafael dorme na mesma cama que o "tio"do Rafael, levar pra feira de livro, levar ao salão, explicar que os homens são melhores quando nos divertem e assim por diante. Eu nunca vou lembrar do horário da comida, a não ser que ela me lembre, não vou lembrar de passar o uniforme, nem de colocar o lanche. Tenho défict de atenção, ela não. Quando chego em casa, eu deito a cabeça no colo dela. Sinto aquele cheirinho que têm as pessoas jovens. Eu a amo, ela sabe disso. Nada mais precisa ser dito.