16 de abr. de 2008

O Cristo está parado e outras chamadas



O mercado de trabalho a que se referem os especialistas, não é pra mim. Nós dois sabemos disso, eu e o mercado de trabalho. Lembro de quando fazia os textos para a comunicação interna de uma grande empresa de telefonia móvel, eu pensava; Imagine eu aqui, iam me demitir rapidinho. Você tem que ser meio robô, ir atrás do que eles falam e tomar aquilo para sua vida como se fosse um grande prazer, ou pior, como se fosse um dos dez mandamentos. Não basta o cidadão pegar no batente todos os dias, ele deve obedecer as normas tácitas da empresa - normas que eu ajudava a divulgar. É uma filosofia que avança para o modo de pensar e agir. As únicas que se safam são as secretárias de anos, essas podem ser como bem entender, porque estão ali há século, são de confiança e tal. Na verdade, são umas cretinas solteironas, fofoqueiras e a maioria vende "um sanduichinho pra complementar a renda", pela encolha. Às vezes elas vendem Avon também. E se você mudar de revendedora, são capazaes de destruir a sua vida profissional.

Essas grandes empresas inventam de tudo para encher o saco e padronizar o pessoal . Lembro do tempo do meu avô, que chamava empresa de "firma" , os funcionários enfiavam o dedo na cara do chefe, bebiam toda a noite após o expediente e todo mundo se comia dentro da "firma". Hoje não, hoje tem ética, e eu ajudei a enfiar a resenha na cabeça do povo. Uma hora era a "cartilha do emagrecimento", a empresa inventou de pagar uma dieta para os funcionários, porque chegaram a conclusão que gordos produzem menos, devido a fadiga. Em outro momento era a construção da biblioteca com a presença do mala - mor da literatura: Inácio de Loyola Brandão. Mas imagine- se um funcionário de uma empresa dessas: Todo o dia você chega no trabalho com aquela ladainha de "motivação"e vai embora com o seu "gestor"- eles não falam mais "chefe" - te cobrando mais "produtividade". Meu primeiro estágio foi em uma empresa do tipo, uma multinacional. Todo mundo era bonito, todo mundo falava inglês pelos calcanhares, todos queriam fazer MBA, todos faziam ginástica na hora do almoço, eu tinha um piercing na língua. O cara entra nessa e se acha um merda se for demitido, se sentirá culpado quando o banco acabar com a festa do crédito e a gerente nunca mais ligar no aniversário - faz parte do "marketing de relacionamento".

Cadê a sinergia da equipe? Aqui ó, eu pensava. Aliás, eu pensava em inúmeras conspirações enquanto escrevia esses textos. Tem uma ótima, lembro direitinho. Foi uma chamada horrorosa para uma campanha idiota. Ano passado teve aquela história das "Novas sete maravilhas do mundo", e como todo mundo sabe, o Cristo Redentor, cafona que só ele, era candidato. Daí a campanha era para motivar os funcionários a votar no Cristo. Isso mesmo. Eu pensei a mesma coisa: Com tantas coisas pra esses apatetados fazer, eles vão ficar votando no Cristo? Eu votei mil vezes no Taj Mahal. Eis a campanha que criei;

O Cristo está parado, mas você vai se mexer e votar quantas vezes puder para que ele se torne uma das Sete Novas Maravilhas do Mundo.

Horrível, né? Eu sei, no entanto foi aprovado. Sei lá quem aprovou essa merda, mas contam que o diretor quando viu, disse que era o estopim e demitiu o gerente de RH. Parece que eles viviam "sinergias" diferentes demais. Um mês depois, pedi demissão e comi um big mac pra comemorar. Foi minha redenção.

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Então pensei que como eu sou louca, minha vida no mundo corporativo realmente tivesse terminado. Até porque tem uma história, em que os caboclos de RH, jogam teu nome no google. Aí, já viu...Mas então na segunda - feira me liga um cara, que está com meu currículo e marca uma entrevista no su -búr -bio. Quando chego ao local, descubro ser uma grande distribuidora de produtos para tecnologia da informação. A recepcionista pede que eu aguarde na mesma recepção onde ela está, ela tem orelhas enormes, muito grandes mesmo, do tipo excepcional. Parecia que ela estava usando uma daquelas orelhas promocionais do Mickey Mouse, ela percebeu que eu fiquei com cara de idiota olhando as orelhas e me mandou aguardar. A Ivete Sangalo, se esgoelava num DVD ao vivo. Para entreter as visitas - isso foi obra dos mestres do RH. Cheguei cedo, meia - hora antes, e não tava a fim da Ivete. Perguntei onde ficava o banheiro, fui bem simpática e tudo, na esperança de que a recepcionista me oferecesse um café. O que não aconteceu. O banheiro fedia a Bom ar. Tudo certo com a minha aparência, exceto por eu aparentar a minha cara de sempre. Resolvi dar uma volta pra sacar os meus futuros e prováveis colegas de trabalho. Achei estranho, era uma empresa arrojada, mas com muita gente feia. Gente baixa demais, espinhenta demais, curvada demais, gorda demais, cabelos feios, olhos feios, caminhar feio - vi um rápido freak show. Um dos feiosinhos passou por mim com uma garrafa térmica;

"Tem café adoçado aí?''

Perguntei sem esperança. Achei que ele ia dizer que a garrafa estava vazia. Mas o feiosinho abriu um largo sorriso feio e me ofereceu café fresquinho. Gosto de gente feia, de verdade.

Quando volto a recepção, Ivete está acompanhada de Gilberto Gil, lógico que eles dão um selinho, lógico. Também dançam fazendo gestos de agradecimento para a platéia e vestem roupas brancas, aquela coisa "nós assumimos nossa cultura baiana". Quando Gilberto Gil vai embora, vem a Sandy e logo em seguida, o Júnior. Ivete canta uma música deles, penso que a Sandy não existe de verdade. Ela faz parte da Matrix ou então é feita de plástico e acrílico. Nesta hora, chega outra candidata. Meu Deus, se eu pudesse resumir a garota em uma só palavra, seria: CAOS. Gorda, vestido estampado, cabelo vermelho cereja - acaju, salto agulha vacilante, tatuagens, maquiagem carregada. Ela me olha com desprezo, provavelmente porque me identificou como rival. Evito olhar pra ela porque sinto uma enorme vontade de dizer;

"Mas que merda de roupa é essa?"

Eu estou quase dizendo. Quase. Eu não tenho nada a perder, e ela só tem a ganhar. Eu vou dizer. Vou dizer e vai ser agora...

"Vocês duas podem me acompanhar por favor"."

Salva. Mas o pior ainda estava por vir. A entrevistadora parecia meio debilóide, a minha companheira na busca pelo emprego se chamava Miúcha. Meu pai era fã de bossa nova, ela explicou. Jura? Pensei que fosse de Rap. Então a entrevistadora começou aquele lero sobre o trabalho da empresa, o valor do salário - uma merreca - e o cargo oferecido, analista de comunicação interna Jr. É isso mesmo, Jr. Perguntou qual de nós duas começaríamos a falar de "nós mesmas" eu dei a vez pra Miúcha. Segue, de forma resumida o relato da vida profissional de Miúcha.

"Eu saí do meu último emprego...hehehe. Bem, o meu chefe me assediou sexualmente. Mas eu não processei nem nada. É, foi por isso que saí do meu último emprego. E o do outro antes desse eu não me entendia com uma garota de lá, sabe? Ela um dia inclusive, tentou me agredir fisicamente, mas eu me esquivei e achei melhor "pedir as conta". É eu quero muito entrar nesse trabalho, porque agora eu tenho um filho de 1 ano e seis meses e o pai dele é ausente, sou mãe solteira, he he he."

Depois que Miúcha calou a boca e antes que eu abrisse a minha, pedi licença para ir ao toalete. Encontrei de novo o carinha do café, pedi outro, ele me deu. Perguntou se eu ia trabalhar lá. Ponderei as coisas em cinco segundos. Decidi que não. Fui embora, sob um forte temporal. Desses que lavam a alma.

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E hoje saiu a confirmação do trabalho que eu queria, rádio, internet e vídeo. Divulgo aqui depois. Fiquei feliz.

3 comentários:

Dom disse...

Você foi generosa, com a Miúcha e com você mesma.

seu blogue ta lindão, gostei de ver. valeu por me passar o link do conteúdo, achei que você havia jogado tudo pela janela, e que, enfim, só lhe encontraria no sebo.

Bjo.
espero ainda te encontrar no sebo.

Priscila disse...

Que texto bom, fia!

UHUHUHU,precisamos comemorarrrrr

besos
priscila

Oicram Somar disse...

é... não entendo muito disso mas sei que é foda... detesto trabalhar... arghhhhhhhhhhhhh